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Sem professor fixo, aprendizado ? comprometido

Terça-feira, 21 de maio de 2013

Última Modificação: 05/11/2018 14:07:54


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A frequente transferência de docentes impede o planejamento adequado de aulas e o vínculo com os alunos

O calendário escolar nem chegou à metade e a professora Liliane Malinovkski Padilha já trabalhou em quatro escolas diferentes só em 2013. Docente da rede municipal de Araucária, na Grande Curitiba, hoje ela divide seu expediente como professora substituta em uma creche pela manhã e em uma escola de ensino fundamental à tarde. Uma rotina mais tranquila que a que tinha no ano passado, quando ocupava uma vaga itinerante e circulava por quatro escolas todos os dias. Esse não é um caso isolado.

A rotatividade intensa afeta a qualidade do ensino e o trabalho de muitos professores. Liliane afirma que poderia planejar melhor suas aulas se permanecesse a semana toda, em período integral, em uma mesma instituição. “Já se passou quase meio ano e, até agora, tem mãe de aluno que eu não sei quem é”, lamenta. No entanto, o sistema de escolha de vagas torna a mudança um movimento frequente. Os professores geralmente têm preferências por algumas escolas em que gostariam de atuar. Quando isso não ocorre, as condições de trabalho tornam-se um grande motivador para pedir transferência.

Com as trocas de docentes, os estudantes acabam sendo os maiores prejudicados. “O excesso de rotatividade impede o vínculo entre professor e a turma e atrapalha a identificação das dificuldades de cada aluno”, diz a professora Marta Regina de Oliveira, do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Marta destaca que, mesmo havendo o planejamento por escrito do antigo professor, aquele que assume nem sempre concorda com o proposto e prefere recomeçar os conteúdos. “Isso normalmente gera defasagem de conteúdo para os alunos”, diz a especialista.

Motivos

Grande parte das movimentações dos docentes ocorre por iniciativa própria. Em 2012, na rede municipal de Curitiba, por exemplo, 2.019 professores pediram remanejamento, o que representa 17,5% do total de docentes. As justificativas para um profissional pedir transferência, segundo Marta, vão desde razões práticas, como a vontade de trabalhar perto de casa, até problemas graves, como violência ou ameaças. Na rede privada, a aprovação em um concurso público é o principal motivo de migração dos professores.

“Se o professor não é reconhecido em sua profissão com salário digno e condições adequadas, com toda certeza vai buscar outras alternativas no mercado”, diz a professora Maria José Subtil, do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Ela destaca o quanto essa situação dificulta a gestão escolar e coloca o modelo de escola adotado no país em xeque, já que a aprendizagem requer um trabalho focado e que seja motivador para os professores.

Trabalho disperso torna o vínculo fraco

Quando se trata de rotatividade, não é apenas a troca de um professor por outro que afeta o rendimento de uma turma. Como vários profissionais trabalham em mais de um estabelecimento, a construção de projetos coletivos entre docentes fica inviável.

Segundo a Sinopse Esta­tística da Educação Básica 2011, estudo feito pelo Ins­tituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) com dados do Censo Escolar, pouco mais de 454 mil professores trabalham em mais de uma escola no país, o que representa 22,11% do total. No Paraná, a proporção é maior. Dos cerca de 115 mil docentes de todas as redes de ensino, 28,3% dão aulas em duas ou mais instituições.

Superficial

Para especialistas, essa rotina corrida torna superficial a relação com o estabelecimento. “Muitos professores nem tomam conhecimento do que ocorre na escola. Apenas dão sua aula e vão para outra instituição”, diz a professora Marta Regina de Oliveira, da UEL. Segundo ela, mesmo os docentes mais comprometidos não conseguem acompanhar bem a vida da comunidade escolar, já que eles não pertencem a uma só, e precisam dividir a atenção.

Liliane Malinovkski Pa­dilha, que trabalhava em quatro escolas diferentes no ano passado, admite o problema. Para ela, a falta de contato com as famílias é um dos fatores que mais prejudica o trabalho de quem atua em várias instituições de ensino.

Fonte: gazeta

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